Santa Cruz Futebol Clube



Porque o Santa é o Santa

Fundação 03/02/1914

A mística do time capaz de superar qualquer dificuldade e reerguer-se quando parecia impossível junto com os mais pobres da sociedade, foi forjada nos primeiros anos do Santa Cruz Futebol Clube. O primeiro obstáculo a ser vencido foi o racismo.

As seções de cartas dos jornais do início século XX costumavam receber queixas diárias contra os “jovens vândalos e negros desordeiros” que “chutavam bolas e trocavam pontapés” na Boa Vista, na rua da Glória e no terreiro em frente à igreja de Santa Cruz. A polícia era chamada, interrompia as partidas.


Os meninos, então, resolveram enfrentar a repressão com ousadia: criaram seu próprio clube, o Santa Cruz, e já no ano seguinte se inscreveram para participar do recém-fundado campeonato contra clubes realmente organizados, repletos de sócios endinheirados, ou contra times de funcionários das empresas inglesas, amadores apenas no nome, pois eram na verdade financiados pelos próprios patrões.

A notícia da façanha dos dois primeiros jogos correu a cidade: os rapazes do pátio de Santa Cruz meteram 7 x 0 no Rio Negro que, derrotado, exigiu revanche e ainda impôs condição: Sílvio Machado, autor de cinco gols, não poderia jogar. No segundo jogo, o Santa ganhou por 9 x 0. Carlindo, escolhido para substituir Sílvio, marcou seis vezes. O adversário desistiu.


O fato de ser o único time da cidade (assim como do Norte e do Nordeste do Brasil), onde jogava um negro, no caso Teóphilo de Carvalho, o Lacraia, atraiu a simpatia dos mais humildes. Para aumentar a popularidade, os meninos escolheram a campina do Derby, vasto terreno plano onde hoje está a praça do Derby, para mandar seus jogos. Lá não havia arquibancadas nem muro e todos podiam acompanhar os jogos do Santa Cruz. Nos campos da avenida Malaquias e dos Aflitos era preciso pagar para entrar.

Quando o Santa virou um jogo lendário contra o América, em 1917, e foi o primeiro time da região a derrotar um rival do Rio de Janeiro (3 x 2 no Botafogo, em 1919), sua torcida já era a maior nas palafitas e favelas onde viviam os ex-escravos e seus descendentes.


No início dos anos 40, a aura do time capaz de fazer o impossível extrapolou as fronteiras do estado e se tornou conhecida em todo o País. Em plena II Guerra Mundial, com os submarinos alemães torpedeando navios na costa brasileira, o Santa Cruz aceitou um convite para jogar amistoso em Belém. De lá, seguiu para Manaus, sempre de navio. De volta à capital do Pará, dois jogadores (o goleiro King e o atacante reserva Papeira) morreram provavelmente infectados pelo tifo ou pela malária, contraídos durante a viagem pelo rio Amazonas.

Com o bloqueio dos portos, o time só chegou em casa depois de quase quatro meses, completando a viagem de trem e caminhões pau-de-arara. No entanto, a coragem e raça dos seus jogadores espalhou-se por todos os estados.

1931 - O primeiro título


O primeiro título aconteceu em um turno único de pontos corridos com participação de 11 times. O Santa chegou à rodada final invicto e já campeão, pois não poderia ser alcançado pelo Náutico, adversário do último jogo. As principais estrelas desse título e dos próximos três troféus conquistados eram Tará, Sebastião da Virada, Valfrido e Sherlock.

SUPERCAMPEÃO 1957


De tão esperado e festejado, os mais velhos ainda dizem que essa foi a mais importante conquista do clube. Com cada um dos grandes da capital vencendo um turno, pela primeira vez a final seria disputada por três times. No primeiro, alvirrubros e rubro-negros empataram em 1 x 1. Bom para o Santa, que tirou o Náutico no páreo com um 3 x 1 na segunda partida. Num jogo emocionante, no qual abriu 3 x 0 e quase cede o empate, o Santa acabou campeão com um 3 x 2 sobre o Sport na Ilha do Retiro. O goleiro Aníbal, o defensor Aldemar, o ponta Lanzoninho e o atacante Mituca eram os ídolos do supercampeão.

TRI-SUPERCAMPEÃO 1983


Talvez tenha sido o mais improvável dos “super” do Santa Cruz. Depois de perder duas decisões de turno para cada um dos rivais, o time de Carlos Alberto Silva perdeu também a primeira fase do terceiro e último turno. Tinha de ganhar o quadrangular. Ganhou. E ganhou também a decisão do turno, numa partida contra o Sport disputada de maneira inédita em Caruaru. O título foi conquistado nas cobranças de pênaltis, depois de um 1 x 1 contra o Náutico. O goleiro Luís Neto, o então lateral-direito Ricardo Rocha, o volante Zé do Carmo e os atacantes Django e Gabriel também brilharam num time em que as grandes estrelas eram o meia Henágio e o próprio treinador.



TIAGO CARDOSO (TIAGO CARDOSO DOS SANTOS)


Para superar Birigui no imaginário da torcida tricolor como um goleiro inesquecível era preciso fazer mais do que milagres. Herói de três títulos pernambucanos e do Brasileiro da Série C, Tiago Cardoso o fez. Goleiro que se torna insuperável nas partidas decisivas, realizou defesas em sequências nas decisões do tricampeonato de 2011-12-13. É o maior ídolo da torcida tricolor no início do século XXI.

BIRIGUI (MARCOS ANTÔNIO GOMES)


Assim que chegou ao Santa em 1983, protagonizou um inesquecível revezamento com Luís Neto na disputa pela camisa 1 coral. Conquistou a vaga de titular e o coração da torcida tricolor fazendo incontáveis milagres durante os campeonatos brasileiros e nas campanhas do bicampeonato 1986-87. Não era incomum a torcida adversária gritar “gol” e depois calar, quando o goleiro se recuperava de um drible ou agarrava uma bola que parecia impossível.

HENÁGIO (HENÁGIO FIGUEIREDO DOS SANTOS)


Dentro da área, aproveitava qualquer espaço minúsculo com toques rápidos e deslocamentos desconcertantes. Fora da área, armavas as jogadas, descobria espaços vazios e conduzia o time ao ataque. Em 1983, conduziu um time limitado ao trisuper estadual com uma série de atuações quase perfeitas na reta final do estadual. Em duas passagens pelo Santa (a primeira de 1983 a 1985, a segunda de 1991 a 1993) marcou 34 gols em 195 atuações.

NUNES (JOÃO BATISTA NUNES DE OLIVEIRA)


Quando os dirigentes a época o viram jogar pelo Confiança de Sergipe, em 1975, logo perceberam o potencial de Nunes para substituir o ídolo Ramon, prestes a ser negociado ao final do ano. Acertaram em cheio: em meados do ano seguinte, o Santa era bisupercampeão e o artilheiro de “Cabelos de Fogo” o novo xodó da torcida , seduzida pela sua raça e insaciável fome de gols. Quando foi negociado em 1978, depois de passagens brilhantes pela Seleção, já havia marcado 86 gols com a camisa nove do Santa.

RAMON (RAMON DA SILVA RAMOS)


Com a cabeça ou com os pés, era um finalizador nato, daqueles que jamais se intimidam diante do gol. Em suas duas passagens pelo Santa, marcou 148 gols, 21 deles no campeonato brasileiro de 1973, quando foi artilheiro isolado da competição. Do Santa, Ramon foi para o Internacional e, em seguida para o Vasco da Gama, voltando para encerrar a carreira no Arruda no início dos anos 80.

GIVANILDO (GIVANILDO JOSÉ DE OLIVEIRA)


Mesmo no século XXI, Givanildo seria considerado um “volante moderno”. Ao mesmo tempo em que era um marcador implacável, também saía jogando com passes sempre rápidos e precisos. Além disso, ainda apoiava o ataque e era bom cobrador de faltas. Apesar de jogar na ligação da defesa para o ataque, marcou 35 gols com a camisa tricolor e jogou 13 partidas pela Seleção Brasileira. Possui dois recordes no clube: foi campeão estadual oito vezes e, com 599 apresentações, é o jogador que mais vezes jogou pelo Santa.

LUCIANO VELOSO (LUCIANO JORGE VELOSO)


Seu nome é sinônimo de pentacampeonato. Das 131 partidas dos cinco títulos consecutivos, só não participou de cinco delas. Foi dele, por exemplo, o gol de falta contra o Náutico que garantiu a primeira das cinco conquistas em 1969. Meia habilidoso e grande articulador de jogadas, era dono de um chute poderoso que o levou a ser contratado pelo Corinthians. Encerrou a carreira antes dos 30 anos para estudar Administração.

ALDEMAR (ALDEMAR DOS SANTOS)


Cinco temporadas com a camisa coral (de 1954 a 1958) bastaram para fazer de Aldemar um dos maiores defensores do futebol do estado. Elegante, técnico e com imensa capacidade de se antecipar aos atacantes, ganhou apelidos como “Príncipe” ou “Cavalheiro”. Liderou a defesa do Santa na conquista do supercampeonato e, um ano depois, foi contratado pelo Palmeiras onde consagrou-se como o melhor marcador de Pelé e chegou à Seleção Brasileira. Por causa do alcoolismo, encerrou a carreira cedo, em 1966. Morreu atropelado em 1977, aos 44 anos.

GUABERINHA (GÉRSON LINS DE MIRANDA)


Começou no extinto Torre. Jogava em todas as posições do ataque, sempre com muita velocidade e movimentação. Com a saída de Tará no final de 1942, tornou-se ídolo da torcida, principalmente depois de ser a principal estrela tricolor na excursão suicida de 1943 e do bicampeonato 1946-47. Marcou 92 gols pelo Santa Cruz e criou muitas inimizades em campo: malandro e malicioso, devolvia em dobro os pontapés que levava dos zagueiros.

TARÁ (HUMBERTO AZEVEDO VIANA)


Para muitos, o maior jogador de Pernambuco em todos os tempos. Até 1931, o Santa nunca havia conquistado um título. Ele estreou em setembro. O primeiro título veio três meses depois. Ficou 11 anos no Santa, passou pelo Náutico para jogar ao lado de seus quatro irmãos, mas voltou em 1948 como meia-esquerda. Dezoito anos depois de estrear, fez os últimos dos seus 207 gols pelo Santa Cruz. É o maior artilheiro da história coral. Como não bastasse tudo o que fez, ainda foi técnico do time depois de encerrar a carreira em campo.

SEBASTIÃO DA VIRADA (SEBASTIÃO LUIZ DE FRANÇA)


Em 1929, foi o primeiro jogador nordestino a ser cotado para a Seleção Brasileira. Era um zagueiro daqueles que empolgam a torcida, com muita garra e desarmes perfeitos. Era o titular da zaga coral no primeiro tricampeonato. Em 1934, teve o cuidado de guardar a bola goleada de 7 x 0 aplicado sobre o Sport. Na década de 70, doou a bola para o clube, quando o Santa Cruz lhe ofereceu abrigo na velhice, quando não tinha de onde tirar seu sustento. Sebastião, literalmente, viveu e morreu no Santa Cruz.

LACRAIA (TEÓFILO BATISTA DE CARVALHO)


Do futebol de Lacraia, pouco se sabe. Na verdade, ele é um dos maiores heróis não apenas do Santa Cruz, mas do futebol nordestino, por ter sido o primeiro jogador e dirigente negro da região. Como quase todos os outros fundadores, foi titular do time nos primeiros anos de existência do clube. Quando não estava à frente da defesa, era personagem fundamental nos bastidores. Foi ele quem desenhou o escudo do clube, inspirado nas âncoras dos navios que aportavam em Recife. Parou de jogar, mas continuou a estudar. Formou-se em engenharia e ajudou a dirigir o clube cuja identidade foi moldada, em grande parte, graças à sua presença.

Foto / Montagem / Edição: JF Hyppólito